terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Minha história de vida médica rumo à astrologia (parte III)

Falei-lhe sobre a homeopatia. Engraçado que desta medicina sem evidências robustas na literatura médica você não discorda, tendo peito aberto quase como eu tenho para acolhê-la como terapêutica para sua vida. Quero lhe mostrar como da homeopatia para a astrologia é um pulo.

Os estudos homeopáticos me foram de tal forma desestruturantes da forma de ver a medicina, que pela brecha que ele rompeu em meus muros epistemológicos, uma avalanche de vontade de conhecer outras medicinas se me apoderou.

Passei a estudar o que se conhece atualmente como racionalidades médicas, e vi que há dezenas no mundo inteiro. Localmente tão legítimas quanto a medicina oficial do ocidente, porém sem força - particularmente política e econômica - para se tornar universal como esta se tornou.

Outra medicina, porém, vem ganhando terreno pelos nossos países: a medicina tradicional chinesa. Esta vem logrando minar os preconceitos dos médicos ocidentais mais do que a homeopatia. Todavia, veja que lástima, nossa ciência moderna, cedendo aos resultados da acupuntura, não quer aceitar a doutrina que a fundamenta, haja vista, meridianos, yin-yang, chi. Vem suando sangue para mostrar que os tais meridianos não passam de projeções dos nervos na derme dos pacientes.

A doutrina chinesa do Imperador Amarelo não fala isso. Os meridianos são caminhos presentes em outro tipo de corpo que não o celular, estudado pela anatomia. O chi é uma energia imensurável, cujo estudo é apenas possível pelo próprio movimento dela, e não pela dissecção microscópica. Qualquer semelhança disso com a energia vital dos homeopatas não é coincidência.

O que me perturbou, de forma positiva, ao estudar acupuntura foi ver uma doutrina médica ainda mais concatenada que organizava TUDO, eu disso TUDO, em uma cosmologia universal, conectando homem e natureza. Os sintomas dos repertórios homeopáticos, muitos deles tidos como bizarros para a medicina alopática, se enquadram no sistema chinês com uma lógica assombrosa.

Há um princípio universal, por assim dizer verbo de Deus (uma forma cristã herética de traduzir), que é o yin-yang: o movimento perpétuo dos contrários. Destes surgem os cinco elementos - Madeira, Metal, Água, Terra e Fogo - cuja relação, de dominância ou geração, justifica a saúde e doença das pessoas e das populações. Cada órgão e víscera do corpo humano tem um correspondente mais ou menos análogo no sistema de meridianos, vasos pelos quais corre nosso chi. Nossas emoções encontram espaço confortável nessa estrutura, por exemplo, o fígado tendo a ver com a raiva, e o coração com a alegria. E até mesmo as estações do ano e as horas do dia encaixam-se nessa antropologia cósmica.

Agora chego na parte que queria. Certo dia, perguntando sobre a causa das doenças nas pessoas, o professor nos fala sobre a proveniência mater-paterna do chi escoando ao corpo em formação, porém deixa escapar a influência dos astros na estruturação deste mesmo corpo. Até com os astros os chineses decidiram trabalhar para explicar o processo saúde-doença! E nossa astrologia ocidental tem um afinidade enorme com a forma dos chineses de verem o complexo homem-mundo-cosmos.

Ao final do século XIX, um médico francês chamado Gérard Encausse toma conhecimento das sabedorias orientais, de escolas esotéricas. Era uma época de muita abertura, com efervescente troca entre os dois hemisférios. Porém, questiona-se se o ocidente não teria também sua tradição de sabedoria. Descobre que sim. Funda uma escola de estudos das sabedorias ocidentais, entre elas, as formas de astrologia que viemos estudando desde a Idade Média, até mesmo entre santos cristãos. Sua escola pretendia se contrapor ao materialismo do ensino médico de então.

Meu estranhamento primeiro é por que conhecimentos tão amplos foram jogados no lixo histórico depois de termos inventado a ciência moderna? Nesse ponto, o exercício da ciência é apenas reativo: não aceitar o que não apresentar uma evidência gritante aos olhos, à prova das experimentações, com metodologia rigorosa, reprodutibilidade global, e, tanto melhor, capacidade de previsão da repetição dos fenômenos quando submetida às mesmas condições geradoras.

O que venho vendo nas situações da homeopatia e da medicina chinesa, aceitando toda a tradição reflexiva desta, é a impossibilidade de nossa ciência moderna, conduzida do jeito que é, dar conta da complexidade das abordagens das chamadas medicina alternativas.

Alguns deslizes para a mentalidade do cientista moderno provoca a rejeição integral de toda uma paraciência. Por exemplo, o não-geocentrismo ou o rebaixamento de Plutão para asteróide fez com que se jogasse fora milênios de reflexão astrológica na busca de entender o homem a partir do cosmos. A inexistência de princípio ativo materialmente significativo faz rejeitar toda a experiência dos homeopatas que se esforçam em tratar o ser humano abordando todos os seus sintomas como um movimento único do corpo em busca de se reorganizar.

"O problema é o absolutismo da teoria!" Você pode me contrapor. Não, não é. É o estranhamento profundo com o núcleo identitário do nosso paradigma. Nossa ciência é um corpo rejeitando o invasor estranho.

Estava lendo um artigo sobre a acupuntura em uma enciclopédia francesa, e ela levantava vários êxitos dessa técnica no controle de dores, apontando teorias neurais que davam conta de alguma explicação. Porém, ela mesma confessava que sobre os êxitos da acupuntura em outros processos como transtornos de humor ou infecções, a teoria neural ainda era falha para explicar.

É uma ambição gnóstica, talvez, e um grave pecado aos olhos da igreja católica, eu sei, minha busca por uma medicina que abarque uma explicação que envolva das energias sutis ao sistema solar. Mais do que critérios laboratoriais ou experimentais, venho aprendendo a respeitar o esforço dos nossos ancestrais que dialogam, do infinito, comigo. Gerárd Encausse era grande amigo de León Denis, cujo livro Depois da Morte, revelando a unidade das grandes sabedorias do passado, converteu o professor Eurípedes Barsanulfo.

Pela nossa amizade, você pede que eu tome cuidado com essa vida de lutar contra moinhos de vento. E seu conselho me fez pensar por dias. Na verdade, ainda reverbera na alma. Mas, a energia que me conduz a essa busca é tão febril, que caso venha a terminar como D. Quixote, serei mais um fidalgo franzino esmagado por uma cultura que esvazia, sem piedade, o sentido da existência. Ao menos morrerei lutando.

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