terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Minha história de vida médica rumo à astrologia (parte I)

Amigo, 

Hoje vou lhe falar os motivos pessoais que vem me conduzindo para essa arte milenar. 

Você sabe o quanto não me dei bem com a medicina que me foi ensinada na faculdade. Os estudos que formaram minha personalidade, particularmente na adolescência, me fizeram ter um gosto por uma espiritualidade ampla, que envolvia o conhecimento dos caminhos do ser humano enxergados a partir das mais diversas áreas do saber. De outro modo, tive acesso a uma forma de organizar estes conhecimentos bem sistemática. A doutrina que tanto eu quanto você abraçamos nos permitia responder às mais diversas perguntas com facilidade e lógica. Tudo parecia fazer sentido em um imenso sistema metafísico. 

Quando entrei na faculdade, me deparei com um infinito de conhecimentos sobre o corpo humano extremamente fragmentário. Não existia uma doutrina médica propriamente dita, mas como que vários laboratórios disputando corrida de quem descobria mais curiosidades sobre o biológico. Desse conjunto de panos, cabia ao que eles denominavam de clínica costurar alguma coisa que parecesse bom como proposta terapêutica ao paciente singular que se apresentava à nossa frente.

Um ramo da epidemiologia (estudo dos fenômenos populacionais), chamada medicina baseada em evidência, tentava, não costurar, mas filtrar todo o conhecimento produzido por aquela corrida de laboratórios de pesquisa, a fim de, pelo menos, deixar montanha de panos menor, quem sabe assim facilitasse a vida do clínico. 

O que deveria ser a racionalidade médica que nos ajudaria a colocar as coisas em ordem - a fisiologia, a patologia e a farmacologia - eram impérios de conhecimentos difícil de se comunicarem, além do que, de vez em quando desmerecidos pelas assim chamadas evidências. Qualquer brilhante conexão que fizéssemos usando estas três ciências poderia ser colocada por terra se a evidência não a chancelasse. 

Terminávamos assim, a faculdade, como camelos, carregando em nosso lombo um sem fim de dados, toscamente organizados por alguns casos clínicos que ajudamos a conduzir durante a formação. Cada pessoa que vinha ao consultório em que estagiávamos contribuía para dar um sentido e alguma face para aquele monturo de informações médicas. Era como permitir a encarnação das matérias, das disciplinas. 

Falava-se de médicos lendários que após decênios de prática possuíam a coisa com alguma forma apreciável na mente, como que uma pedra melhor esculpida do que nossa ainda incipiente arte abstrata. Geralmente eram professores que conhecíamos ao final da faculdade, conduzindo visitas por leitos hospitalares.

Depois que me formei, fui logo para os ambulatórios da atenção básica, matéria pobremente abordada na nossa formação. Ali me deparei com o que não nos era dito, ou que foi silenciado. A maior parte das feridas das pessoas não são contempladas pela medicina que nos é ensinada na faculdade. A colcha de retalhos que nos ensinaram a costurar era, na verdade, eivada de buracos pelos quais sinais, sintomas, queixas, lágrimas, gestos, semblantes, insinuações passam por inteiro sem nem serem tocados. Essa constelação de assuntos humanos, que a medicina oficial não tem olhos para enxergar, são tidos como "frescura", "piti", "exageros". Fui atrás de saber se o exagero dos pacientes na verdade não seria o reflexo de uma falta por parte da nossa prática. Aqui entra meu namoro com a homeopatia, que lhe contarei na próxima postagem.

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