terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Minha história de vida médica rumo a astrologia (parte II)

Havia lhe falado das minhas frustrações com uma medicina fragmentada, que impunha sobre nós o mesmo olhar contra o ser humano.

Contra a homeopatia eu tinha todas as reservas que os acadêmicos tem, mais por um sentimento de aderir a crença da horda do que de avaliar a eficácia e o sentido com meu próprio esforço.

Esse preconceito começou a ser dirimido por causa da cultura popular que encontrei ao redor da nossa querida cidade de Sacramento, onde certo professor muito querido da região, Eurípedes Barsanulfo, exercera ampla caridade curando muitas chagas com os remédios homeopáticos que artesanalmente fabricava ao seu Colégio Allan Kardec.


Voltei em busca de uma especialização no assunto. Encontrei-a. Iniciei o estudo da mesma, e qual não foi minha surpresa ao me deparar com uma medicina que possuía uma doutrina médica vasta, coerente, concatenada. Ela se fundamentava no que entendia fazer da pessoa um ser vivo e homeostático, e não na dimensão apenas mensurável do corpo, que na medida em que os microscópios ganham poder de penetrar, mais buracos encontram. Esse algo que caracterizava os seres vivos como organismos portadores de impulso vital, que reagia às agressões do ambiente com vontade de mais vida, a homeopatia deu o nome de energia vital.


Como é do meu feitio, fui em busca de me aprofundar no assunto, e, nova surpresa, o conceito de energia vital não era de agora, mas já vinha com a humanidade há milênios, tendo sido sepultado, aqui no ocidente, à época da medicina microbiológica, quando imputaram a causa de todas as funções que o organismo vivo apresenta a estruturas bem delimitadas que seriam as responsáveis por conduzir o bom andamento dessa ou daquela tarefa. O organismo vivo funcionava bem por causa de seus órgãos e organelas que funcionavam bem. Era como dizer que as rodas rodam por causa das rodelas, que o céu era azul por causa das partículas azuis que o compõem, que os sonhos são o que são por causa dos micropensamentos que o possibilitam. É reduzir o fenômeno ao microfenômeno.

De todo modo, ainda que o conceito de causa seja controverso na atual filosofia da ciência, as unidades a que tentavam reduzir o fenômeno não davam conta da complexidade do mesmo. 


No caso do organismo vivo, a noção de energia vital me parecia mais capaz de elevar a teoria médica a altura do vasto universo das queixas das pessoas, bem como os remédios dinamizados, que imagina-se atuar estimulando o indivíduo na sua inteireza, tinha maior possibilidade de restabelecer a saúde. Como uma aspirina pode prevenir o infarto sem acarretar algum outro problema em outra parte do organismo? Não estamos falando de um complexo orgânico? Ora, pela teoria dos sistemas, nenhum elemento é perturbado sem que afete todo o resto. A farmacologia homeopática parte desse princípio e não desiste dele.

Os físicos e biofísicos, químicos e bioquímicos, farmacologistas, todos querem desmerecer a farmacologia homeopática pela inexistência laboratorial de matéria que dê razão ao remédio dinamizado. Todavia, para um médico que aprendeu a dar pouco valor para as ciências isoladas caso elas não venham a explicar o que vemos na prática diária, as falas dos cientistas de laboratório pouco me coçam. Para mim era mais importante os resultados que eram reproduzidos no mundo inteiro, para além do ocidente (!), por todos aqueles que se submetiam a esta outra medicina que já dura dois séculos. Além dos diálogo íntimo que essa medicina fazia com minhas principais convicções.

A indústria da medicina baseada em evidência, que vem estudando a eficácia pragmática do exercício homeopático, alega que não há evidências a favor da homeopatia, e que, portanto, substituir o tratamento convencional pelo homeopático seria criminoso. A luta está nesse patamar.

Para onde meu olhar se desviou, com bastante fundamentação filosófica a respeito? Existe uma carência gigantesca de metodologias de pesquisa que deem conta da riqueza do real. Qualquer um que estude a homeopatia seriamente vê que as pesquisas conduzidas para comprovar sua eficácia a mutilam já na construção do estudo antes de começar qualquer experimentação. Onde se averígua a eficácia dessa medicina dando força para sua resistência? No cotidiano dos consultórios homeopáticos. O que isso tem a ver com a astrologia? Vou lhe falar mais adiante, quando lhe explicar meu desvio pelo estudo da acupuntura.

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