Até terminar a faculdade eu dormia relativamente bem. O curso perturbou meu sono por longo tempo, mas eu conseguia repousar e me refazer. Quando me formei, os plantões me desorganizaram.
O horário do meio da madrugada geralmente era o meu, porque não aguentava não dormir à meia-noite e gostava de ainda ter um sono sem preocupação até o amanhecer do dia, depois de cumprida minha obrigação no horário que me era designado.
Quando passei à chefia de equipe, qualquer grave intercorrência da madrugada era minha, e as prescrições só poderiam ser fechadas quando virasse o dia. Por vezes, tirava direto após uma da manhã, outras tinha apenas duas horas de sono, mas sem profundidade. Sempre fui de abrir os olhos imediatamente ao sinal de quaisquer passos que a mim estivessem se direcionando.
Passados os dias de plantão, a insônia das duas da manhã me acompanhou. Era uma rinite ou apenas uma poeira de pensamento que já me acordava por inteiro. Para que as preocupações não se acostumassem a ser minhas companhias, deitadas comigo, dei de levantar para meditar. Como a meditação possui cronômetro incerto, aderi à velha prática do terço católico, com algumas variações conforme minha crença. O primeiro terço, sentado em um zafu ao chão, me esvaziava das imagens deste mundo, o segundo, já deitado, me entregava às alucinações relaxantes do sono. E me dava uma sensação de que, embora breve, aquele sono conduzido pelas repetidas orações era de uma qualidade ímpar.
Essa insônia foi uma sombra que me conduziu a um refúgio inesperado. E, embora o sono aos poucos tenha retornado à sua qualidade, inaugurei em mim uma tradição que há tempos me espreitava.
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