quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Por que a homeopatia não é crível?

Todos alegam que é por causa da diluição infinitesimal do princípio ativo das medicações. Isso é o de menos. 

(Importa dizer desde o início que este texto está sendo escrito por alguém que acredita na homeopatia e esteve aberto, nos últimos meses, a entender o discurso dos adversários.) 

Tudo começa no princípio de todas as coisas. Embora, Hahnemann, seu fundador, tenha se fiado na lógica aristotélica e resgatado princípios hipocráticos para desenvolver seu raciocínio, ele fundamenta a principal atividade do homeopata em Deus. 


"[...] o que lhe [ao artista da cura] era necessário e completamente suficiente [saber] para o objetivo da cura, o Senhor da vida colocou diante de seus sentidos." (parágrafo 12)

Três ideias fundantes da homeopatia estão nesse excerto: 1. O objetivo da cura; 2. A capacidade do homem em completamente saber o que pode curar o outro; 3. A possibilidade de outro ser completamente curado. 

Estas três ideias gravitam em torno da ideia de um deus perfeito, no qual toda dialética é resolvida, toda discórdia apaziguada. Um deus que é pai do homem e que o tem como herdeiro da criação, de tal modo que a ele pode ser concedido o dom de saber o que pode equilibrar o mundo, devolver sentido ao que parecia desviado. Só podemos aceitar que a homeopatia pode acontecer em toda a plenitude de sua promessa se estes três princípios forem contemplados: 1. que a cura seja possível; 2. que o homem possa exercê-la; 3. que o outro possa ser submetido à ação do "artista da cura". E isso, repito, só é possível se houver a transcendente ideia de um deus que garanta essas possibilidades.

Tudo isso já não é motivo suficiente para a filosofia atual duvidar dos poderes homeopáticos?

O ridículo nessa história é que os alopatas pretendem exatamente a mesma coisa, só que sem nenhum princípio fundante. Era isso o que Hahnemann criticava. Como podem os alopatas querer curar os pacientes se eles não sabem, de fato, para onde vão? Sua teorias são uma colcha de retalhos sancionada pela autoridade dogmática de alguns luminares que, porque obtiveram alguns sucessos, acreditam poder replicar isso ao infinito. 

Quando, após Hahnemann, a alopatia descobriu os antibióticos, a farsa da cura se tornou mais verossímel que nunca. Um século depois, a medicina se depara com a tragédia da longevidade, que lhe entregou o ser humano corroído pelas doenças crônico-degenerativas. Quando as afecções eram agudas, os antibióticos ajeitavam. Quando o sofrimento era prolongado, os médicos frustravam-se. Frustavam-se? Frustram-se! Hoje a medicina vive mais de doenças controladas do que de pacientes curados. Hipertensão, diabetes, enxaqueca, lupus, artrite reumatóide, osteoporose, osteoartrose, asma, rinite alérgica, epilepsia, depressão, aumento do número de infecções resistentes a antibióticos, etc. 

É nesse contexto de recrudescimento do incurável que as medicinas integrativas ganham força, porque prometem o que a medicina científica ocidental não logrou dar. Todavia, estamos em uma época completamente diferente da que viu Hahnemann fundar sua doutrina médica. Não se acredita mais em Deus como sendo o centro gravitacional das ideias. Perdendo esse foco, perdemos toda a credibilidade naqueles três princípios que elenquei. 

Ainda que o remédio de diluição infinitesimal seja ratificado pelos laboratórios das grandes empresas farmacêuticas e que a energia vital dos seres humanos seja fotografada por alguma câmera Kirlian otimizada pela Apple, sem a ideia de Deus, nada mais dá força para que a cura seja uma realidade plausível. A vida, nestes tempos secos, mostra-se muito mais com sua face trágica de que não há solução possível para as dores senão a de as aceitarmos como elas são e encontrar o caminho menos doloroso para a morte, aquele que pode, não espantar o mal, mas assinar com ele uma política de boa vizinhança. 

Se eu acredito na homeopatia, é porque a ideia de um deus perfeito que organizou o universo para que pudéssemos amar uns aos outros, e nele, neste universo, deixou meios para que pudéssemos exercer este amor, me é ainda muito cara.  

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