É desse sentimento que fala Montaigne:
"Odeio esse acidental arrependimento que a idade traz consigo. Quem dizia antigamente ser agradecido aos anos por o terem desfeito da volúpia, tinha uma opinião diferente da minha; eu nunca serei grato à impotência de bem que ela me causa. (...) Eu teria vergonha e inveja se a miséria e a desfortuna da minha decrepitude fossem preferidas a meus bons anos, sadios, vivos, vigorosos; e se me estimassem não pelo que fui, mas pelo que deixei de ser. (...) A velhice nos dá mais rugas no espírito do que no rosto; e não se vêem almas, ou são raríssimas, que ao envelhecer não recendam ao acre e ao embolorado. O homem caminha inteiro para o seu crescimento e decrescimento." (Os ensaios, III, 2)Envelhecer seria se esvaziar do que a juventude era. Despede-se da volúpia, da potência, da saúde, do vigor. Não se olha a velhice pelo o que ela é, mas pela ausência que ela sinaliza. É deixar de ser jovem. Rousseau concorda com seu conterrâneo:
"Por que o homem está sujeito a se tornar imbecil? Não é absolutamente porque retorna assim a seu estado primitivo, e o animal, que nada adquiriu e nada tem a perder, permanece sempre com seu instinto, e o homem, perdendo com a velhice e outros acidentes tudo o que sua perfectibilidade lhe havia feito adquirir, torna a cair mais baixo do que o próprio animal?" (Rousseau, Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens)
Suas perguntas apontam afirmações terríveis: envelhecer é imbecilizar-se, é rebaixar-se para aquém do animal. O homem que, por causa da sua perfectibilidade, conseguiu subir tão alto, para além de toda determinação natural, ao chegar na velhice, se torna um estorvo. Rousseau menosprezava a medicina, talvez por causa disso. Dizia nunca ter visto sair pessoas das mãos do médico, mas zumbis. O que realmente deveria ser verdade mais à sua época do que agora. Muito embora ainda encontremos vidas - muito mais do que gostaríamos de encontrar - que se tornaram estorvo por causa da intervenção médica, do contrário teriam se tornado adubo.
Esse é o lado de quem encontrou na velhice o caixão como símbolo, de quem acreditou demais nos poderes dos jovens. É a identidade da civilização dos modernos, para quem a produtividade material é tudo, para cujos futuros aposentados deve-se fazer cursos de como viver a velhice a fim de que não se deprimam.
Não é a visão que gostaria de ter. Na próxima postagem, trago alento para estes tristes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário