1. O sono não é ausência de vigília em absoluto, mas uma outra vida que levamos quando estamos repousando à cama. Nosso corpo passa por fases de aprofundamento e superficialização do sono como que manifestando as aventuras do Espírito para além do quarto. Existe um certo padrão desses ciclos de aprofundamento e superficialização, isto se deve à condição de encarnado e à imposição das células que não permitem que o Espírito se desresponsabilize por completo do seu aparelho físico.
2. Assim como somos mais ou menos médiuns, também o somos mais ou menos sonâmbulos. Assim como conversamos com os Espíritos que se nos avizinham diuturnamente (mediunidade cotidiana), nossa percepção não se limita à do corpo material, constantemente vagando por outras paragens (sonambulismo cotidiano). É quando, com razão, as pessoas dizem: "meu corpo estava aqui, mas meu espírito não".
3. A infância não é nem de longe um mar de serenidade onde o Espírito encarnado está defeso do seu passado. Ela é inocente apenas na medida em que é impotente para responder à altura tudo aquilo que se mostra para ela. Mas desde o berço ali está uma personalidade milenar, com progressos e virtudes, mas também, culpas e desejos, que lhe acompanham ou lhe perseguem. Na erraticidade (o período entre duas encarnações), o Espírito, quando descansa sob a proteção de anjos, se afasta das perturbações que criou para si nas vidas anteriores. É um momento de respiro. Tão logo ele se encarna, a perturbação que provoca no fluido espiritual mais colado à Terra manifesta uma identidade que o faz reconhecido por aqueles que lhe querem bem e lhe querem mal. Ambos vão em sua busca ou em seu encalço. Àqueles para lhe presentear, estes para lhe perseguir. É o que representa para nós a visita que Jesus recebeu dos Reis Magos e dos Pastores de um lado, dos soldados de Herodes de outro. Se Jesus, verdadeiro inocente, possui essa sina, que dirá o resto da humanidade.
4. Com o bebê em casa, os pais, assessorados pelos anjos da guarda, enfrentam grandes lutas contra aqueles que não querem o bebê vivo ou bem sucedido nessa nova oportunidade reencarnatória. É uma prova de fogo para quem o ama. É uma prova iniciática para saber se temos, nós pais, condições de fazer vingar uma vida, isso sim, alquimia suprema, em busca da Grande Obra. Temos o amparo divino para superar os desafios, mas o sucesso depende de nosso esforço e de nossa entrega. De nossa santidade. Palavra esta tão desgastada e que dói nos ouvidos dos modernos, mas que não pode deixar de figurar aqui nessa argumentação.
5. Materializa-se no corpo do bebê, desde a primeira fusão de imensos materiais genéticos, as provas e expiações que deverá sofrer no correr da vida. Na casa em que lhe acolhe, pois, estão os pais também a cuidar das feridas perispirituais que o recém-nascido traz consigo, e que forjam os mais diversos sintomas, tornando os cuidados do bebê um penar. Fala-nos a ciência sobre a imaturidade do sistema orgânico, mas não nos explica porque é mais tranquilo com uns e desesperador com outros, já que estamos todos sujeitos ao mesmo ambiente nóxico. Mesmo as doenças que são diagnosticadas pela alopatia só tem sua razão de ser e de se manifestar em virtude da suscetibilidade de um perispírito fragilizado neste ou naquele órgão, materialização de escolhas equivocadas do passado.
6. Nenhum pai é inocente das feridas de seu bebê. Raros são os casos de pais absolutamente abnegados que acolhem um Espírito por pura caridade, isto é, de graça (cháris = graça). O mais frequentemente, todos estamos imbricados naquelas dores, naquelas cólicas, naquelas lesões de pele, naquela insônia. Seja porque fomos cúmplices ou responsáveis por elas em outras vidas. E aqueles Espíritos algozes que se aproximam do recém-nascido no segredo do berço, também são outros relacionamentos nossos que devemos sanar, perdoando-os e fazendo-nos perdoados.
O verdadeiro guerreiro, o sábio, ou o amante da sabedoria, não deve se assustar com a queda desse véu que revela lutas sangrentas no quarto tão carinhosamente enfeitado. Antes, deve se preparar para a labuta e crer na vontade de Deus, que quer todos os seus filhos reconciliados e triunfando juntos, e não uns sobre os outros.