Embora os americanos pelejem sempre por tabelar a vida e desenvolver questionários que encarcerem em uma escala o que se apresenta subjetivo, falar em Dor total é falar em prestar atenção se a dor do paciente não está potencializada por tudo o que está ao redor da sua doença. Deveria acontecer esse chamado para tudo o que acontece com o paciente, e, de fato, a Associação Nacional de Cuidados Paliativos o faz:
Em Cuidados Paliativos, costuma-se ampliar a noção de “dor total” para o de “sintomas totais”, já que não é só na dor, mas também em outros sintomas (tais como ansiedade, depressão, distúrbios do sono, vômito, dispneia, etc.) que os fatores psicológicos se fazem presentes. (in Manual de Cuidados Paliativos da ANCP, 2a ed., p. 338)Isso porque, na verdade, tudo o que temos é um Indivíduo total (um Indiviso). Tudo isso cheira a óbvio, mas não é. Nossa mentalidade científica do último século pulverizou o homem, dividindo-o em tantas partes quantas fossem necessárias para enxergar de forma clara e distinta seus componentes mais preciosos, pensando assim acessar a verdade que se encontra em seu íntimo. Não passou pela sua cabeça que aquilo que liga as partes também contava, os conhecimentos das fronteiras. Daí, quando falarmos em Dor total, Sintoma total, automaticamente se pensar: "precisaremos de uma abordagem interdisciplinar para lidar com isso".
É só olhar as residências médicas do Ceará. Quantas delas praticam atendimento conjunto com os outros profissionais de saúde? Quantas correm pari passu com as residências multiprofissionais? Vejam que ainda somos um residência isolada: a residência médica. E as outras profissões encaixam-se todas em um mesmo saco: a multiprofissão. Nossos conhecimentos iniciáticos de medicina nos fazem perder a grandeza de enxergar o indivíduo indiviso. Só quem sofreu a perda de um amado, como a Dra. Saunders, é que sabe o quanto dói totalmente no peito a terminalidade do corpo humano.