Atenderam pela primeira vez uma pessoa, que não era um programa de computador, nem ator de simulação. Uma pessoa, com suas imprecisões, inquietações e surpresas.
E como se a vida quisesse se fazer de professora comigo, a uma queixa eminentemente orgânica acrescenta ao corpo consultado uma doença da alma.
Somos tão naturalmente pendentes para estes assuntos que noventa por cento da entrevista médica do neófito se conduziu para entender melhor esta dor.
Viram ainda uma mãe que estava feliz em ter um bebê dentro de si. Gravem! Nem todas estarão felizes, e não as poderemos julgar por isso. Mas, gravem a felicidade de gerar. A mulher se sente natureza, eu acho. E isso é um sentimento que a transcende. Ela é mais que si.
A primeira vez que escutei a batida de um coração acelerado envolto pelas tranqüilas artérias da mãe, aquele poema de Cecília ganhou novo verso para mim: O bebê não!
O bebê é a negação da mãe. São nove meses de ativa espera, de consecutivas surpresas. De alguma coisa crescendo dentro dela e dizendo: eu não sou você. E ele a desordena, a bagunça, a adoece. O mais lógico seria que ela o rejeitasse. Mas, o mais natural é aceitá-lo, acolhê-lo, em uma palavra, útero. Como somos mulheres e homens de cultura, é comum que a natureza não seja nosso código, e, querendo desobecê-la, seja nossa lógica rejeitar o que ela concebe. É porque inventamos também a solidão, o ódio, o estupro. E nisso somos humanos.
Mas, gravem! Aquela mãe sorriu quando eu perguntei sobre o bebê. Nesse início de tudo, seria a única matéria que eu pediria para decorarem. A matéria: o sorriso.
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