Você deve pensar que devo estar falando da penicilina ou do stent ou da embolização de artérias. O quanto essas três revoluções da medicina moderna salvaram milhões de vidas.
Não.
O que eu estava ontem discutindo com os internos é que o grande milagre da medicina é qualquer coisa dar certo. Qualquer uma! Nós, médicos, nos fiamos em pesquisas para dizer que esta ou aquela terapêutica pode servir para este paciente singular que está na minha frente. E vamos levando essa verdade como óbvia até que a resposta do paciente fuja do padrão que esperávamos. Ficamos nervosos e então perguntamos: "O que deu errado?"
Dizia que essa admiração nunca deveria acontecer, mas o seu contrário. Quando um simples paracetamol fizer o efeito que almejamos em duas pessoas diferentes, deveríamos corar a face, deixar palpitar o coração, liberar a lágrima escondida no canto do olho e dizer calado, com os dentes cerrados feito uma oração interna: "milagre".
As pessoas são tão radicalmente diferentes (vide as brigas de casais), e as pesquisas que nos norteiam são feitas com uma população e em condições tão específicas para evitar os tais vieses que a efetividade da intervenção no nosso contexto não deveria ter outra reação.
Daí a defesa da radical necessidade de acompanhar o paciente sobre o qual ofertamos qualquer medicamento se quisermos realmente aprender medicina. É a dádiva que o hospital nos proporciona, mas que subaproveitamos quando estamos na comunidade. Em grande parte por causa de uma política e uma mentalidade que acreditam serem as prescrições endossadas por uma tecnociência mágica que dispensa qualquer tira-teima.
Fica o desafio da pergunta de sempre: "Doutor, vai dar certo?"
O que devemos responder?
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