sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Argumentos pró-astrologia

Amigo,

Talvez não queira saber de astrologia porque ela não é ciência. O que é ciência? Nem sei. 

Vou supor que o que se esconde por trás dessa vontade de ciência seja a rigorosidade da investigação na busca de um conhecimento que não seja charlatanismo. Ora, são no mínimo cinco mil anos de conhecimento acumulado, se acumulando e se atualizando. Não, claro, em laboratório, mas em observação do espaço em diálogo com os acontecimentos da Terra. 

"Ah! Mas não é mais a Terra o centro do universo." E com isso manda-se para o espaço estes conhecimentos cinco mil anos mais velhos do que você e eu juntos. Digo, os novos cientistas mandam, pois os ditos hoje ocultistas se apoderaram deles para encher seus consultórios a preço de ouro.  

Acredito que o que mais fere os seus ouvidos é tentar provar que o que se move aqui embaixo é determinado pelos movimentos do alto. Sempre foi assim na história das religiões. A briga dos deuses provocava catástrofes no chão. Um dia inventamos uma sociedade que colocou a Liberdade como deusa principal, desde então a vida perdeu o sentido público. Conseguimos, mais ou menos, construir um sistema de governo que tolera qualquer cultura, e as grandes sabedorias se tornaram esoterismo ou curiosidade de revista. 

Aprendi com a medicina algo que ela não queria que tivesse aprendido: a não esperar tanto dos conhecimentos científicos. A primeira coisa que ouvi à faculdade foi que eles se esvaem em cinco anos, substituição infinda, inovação destruidora.  Quanto mais a tecnologia avança, mais curta é a validade deles.

Ao final de seis anos, a principal atividade que devia saber era iniciar, adicionar ou mudar anti-hipertensivos, anti-depressivos, anti-convulsivantes, anti-psicóticos, hipoglicemiantes, etc. As pessoas entravam e saiam do meu consultório sequiosas pelas receitas que fortificassem seus diques quase para estourar. Para que tomar aqueles remédios? Que sentido?

O sentido as pessoas buscavam em outro lugar, na igreja. Mas, o cristianismo oficial, cá entre nós, não fala de medicações materiais. A salvação da alma gira em torno de Jesus nas pregações. Minha profissão era um tanto marginal nesse contexto. Seria dar tempo para a pessoa se converter. Talvez mesmo fosse prejudicial, pois meus anti-qualquer-coisa seriam bezerros de ouro, tirando o foco do Deus do Sinai. A doença, que é o deserto das pessoas, teria mais função salvífica que minhas drogas.

Você, contudo, veio com uma mensagem de outro mundo, Minas Gerais. Como Moisés que desce do Sinai, falava-me de um modo de abordar o sofrimento das pessoas feito condutor de jornadas. O foco não era bem a conversão, mas a reflexão dos caminhos. Eis o motivo de quarenta anos em um deserto que bastaria duas semanas para atravessar. A pergunta insistente era: "o que Deus quer de nós?". 

Você disse ainda que na natureza estava semeada a vontade de Deus, Seus sinais, Suas lições. Desde a semântica do lugar onde nascemos até as plantas típicas da região falariam do nosso corpo, da nossa família, nossa sociedade, estes templos reencarnatórios onde pisamos. Por que não a conformação dos astros? Apenas porque se movem? Porque a figura que imaginaram nossos ancestrais formar no céu era ficctícia, ilusão de perspectiva? 

Vou lhe dizer a que se assemelha essa ficção: à medicina que pratico. Quase todos os anos especialistas se unem em um grande comitê e reformulam o que eram nobres verdades. São figuras no espaço médico que se reconfiguram com as novas evidências de quem passa o ano as observar. Dividiram o corpo humano em várias casas. Descobriram que doenças se manifestam quando tal ou qual constelação de astros deletérios se dispõem em torno do indivíduo. Em um ano dizem que são tantos os fatores influentes, no outro adicionam mais um, no outro consideram aquele distante como não sendo mais tão influente (deixa de ser planeta e vira cometa). E, no entanto, a medicina ainda é crível e consultada, política de Estado e indispensável para a nação, para a vida das pessoas. 

A astrologia passa pela mesma instabilidade, visa ao mesmo fim da medicina e além. Além, porque nos dá uma visão sistêmica da vida inteira, de suas fases e dicas de nossos propósitos. Faz uma releitura de nossa existência tentando coaduná-la com os rastros siderais. 

Os bons e atuais astrólogos não dizem que será assim ou daquele jeito, mas apontam que há tantos caminhos possíveis. Nestes cinco mil anos, certa forma de ver os astros, viu que tal ou qual conformação testemunhou tais e quais desfechos possíveis das ações humanas. "Que sentido isso traz para você?" Se antes era uma prescrição, como ainda o é na medicina, hoje se busca um diálogo, não em torno da Terra, mas em torno da pessoa.

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