Eu sou uma espécie de prova de que isso não é um problema. Nunca dormi, na vida inteira, em qualquer aula. Mas, à medicina...
Pensei que era uma questão de teorias densas demais em ambientes gélidos e sombrios, mas mesmo nas práticas de ambulatório à luz do dia, quando o professor começava seu discurso explicativo, o Espírito queria se desprender do corpo de várias formas, fosse sonhando acordado ou cochilando.
Imaginava que pudesse ser a forma como o professor falava, com monotonia, com desinteresse no assunto. Mas, hoje, falando sobre Atenção Primária aos graduandos sob minha responsabilidade, com recursos de retórica, expressão corporal e entusiasmo, ainda os vejo ali, nós, os pescadores de sonhos.
Hoje, não durmo mais ao ouvir os assuntos que me interessam. Mas, também, sinto muito presente a dor ainda insóluvel dos pacientes correndo no sangue, em parte por causa da minha ignorância. Minha parte nesse processo: educar-me como posso. Aprender!
Quando estava à faculdade não sentia a necessidade quase biológica que sinto hoje de responder a contento aos problemas de saúde que se me apresentam.
Queria fazer um estudo sobre os alunos que dormem. Não para os expor como mau exemplo, mas a fim de entender para onde vão quando não estão conosco.
P.S.: Estive conversando com alguns estudantes um pouco depois de ter escrito isso. Eles me deram alguns motivos: 1. horas seguidas de atividades fazem com que o momento da fala do professor possa ser um descanso quando se decide por não dar intervalos, 2. a fome, 3. a atividade matinal depois de uma noite de estudo, 4. a inércia do corpo após o final de semana. Por outro lado, alguém apontou minha prolixidade. Ora vejam só! E mais, que certos professores (nesse momento, eu provavelmente incluso) buscavam prolongar a conversa, mesmo quando se poderia ter acabado com o assunto antes do horário final da aula, a fim de manter os estudantes até o fim estipulado. Minha réplica (pacífica e compreensiva, nada de clima de guerra, aprendi a aprender muito com confrontos): Não prolongo falas para deixar alunos em cativeiro, mas para cativar alunos, a fim de que tenham algum elã pelo o que amo na medicina. De fato, isso pode deixar o discurso prolixo, tornando a extensão do assunto abordado tão vasta que foge dos objetivos. Solução primeira acordada: Momento de fala inicial mais objetiva que contemple o que é estritamente necessário para aquela atividade. Depois, momento de fala bônus com conhecimentos para além da bitola do semestre a fim de mostrar uma realidade mais vasta, ainda que seja por uma fenestra de conhecimento adicional. Sobre os outros pontos, me veio as formas de aprendizado conduzidas por Platão, eram diálogos intensos dentro de uma academia; por Aristóteles, passeava em um jardim; por Epicuro, em meio a uma alimentação frugal junto a discípulos que considerava amigos, uma amizade que considerava como uma das coisas mais importantes da vida. Pensemos nesses exemplos!
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