1. Definição de Espiritualidade
A partir da facilitação de Koenig, religião como sendo mais objetivo de definir, espiritualidade mais indefinido. Definição do movimento de espiritualidade laica francesa que entende espiritualidade lato sensu como a busca do sentido da vida, o que dá o norte de todas as nossas buscas, sendo o laico aquilo que empreendemos sem colocar a hipótese de Deus (Sartre, Ferry, Sponville)
2. Histórico da aceitação do tema Espiritualidade na Academia
A. Do que era na antiguidade clássica, como Deus se confundindo com a natureza, como a natureza razão por excelência com que nossa razão se identificava (somos herdeiros em larga medida dos gregos na nossa forma de ver o universo).
B. Da mudança de perspectiva radical a partir de outra cultura, a hebraica, com a esperança do Deus que interfere na vida, e com os cristão primitivos, com a certeza do Deus presente como Homem (Cristo) entre nós. Essa experiência história gerou as forma de busca do conhecimento medieval, nas universidades da igreja, a escolástica, que faziam da filosofia serva da teologia, buscando entender os pormenores de muitas coisas, mas nunca do cerne da doutrina da salvação: O Cristo.
C. Dos Modernos substituindo essas especulações escolásticas nas universidades católicas por um novo deus, ou deuses, que dialogavam mais com a antiguidade clássica, do que com o Deus pessoal cristão. Entronamos a Razão, A audácia, o Amor pelo que está aqui e não além. Esse processo culminará entre idas e vindas, com grito e fúria, entremeado por silêncios tensos, em Nietzsche proclamando a morte de Deus (do Deus cristão). A filosofia de Nietzsche terá vários pontos em comum com o hinduísmo que tem 33 milhões de deuses (uma divindade espalhada na natureza com intensidade e brilho)
3. Entender ¿que Deus de fato é esse que foi rejeitado pela academia?.
O Deus dos Judeus, ou do que por muito tempo lemos como sendo dos Judeus
o que promete (mas ainda não dá),
o que não se mostra (quando eu quero olhar),
o que me vigia eternamente (me fazendo pecar).
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(Poderia ter feito um passeio pelas novas formas de espiritualidade que começou a invadir o ocidente com a diminuição do império intelectual católico: os orientalismos das mais diversas sortes, mas também o espiritualismo espírita francês, o martinismo de Papus, a mística de Jackob Boheme e do romantismo alemão, o cristianismo social dos socialistas utópicos, o cristianismo místico de Dostoievski ou o cristianismo social de Tolstói, o neoespiritualismo pragmático de William James, a teosofia de Blavatski, a antroposofia de Rudolf Steiner. Todos esses movimentos de contra-corrente da intelligentsia materialista.
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4. O renascimento do Tu na visão clínica
4.1. A Antropologia cultural, ciência de uma civilização pós-atéia.
Expoente: Claude Levi-Straus. No Brasil: irmãos Vilas Boas. Livro atual para os estudantes da saúde: Cultura, Saúde e Doença, de Cecil Helman. Precursor: Montaigne na sua análise sobre os selvícolas do novo mundo. Saímos de um Monoteísmo Radical que, por não reconhecer o sagrado radical do outro, justifica a aniquilação de quem não é da minha tribo, rumo a um Pensamento Alargado. Esse movimento veio com revoluções epistemológicas na forma de fazer ciência: um pesquisador não-inerte, conhecedor de suas limitações, consciente da sua interferência no próprio processo da pesquisa, impedido de gerar um resultado puro, destilado pela objetividade que se quer matemática. A assunção de um conhecimento que é produto do encontro de dois sujeitos, o conhecimento dialógico, que respeita a experiência do outro como legítima. A sombra desse movimento: a relativização de todos os valores e de todas as tradições.
4.2. Outra concepção do respeito ao outro: A ética do Pensamento Alargado de Luc Ferry.
Sair da sua própria ilha, entrar na ilha do outro como se fôssemos de lá, e retornar para a nossa, sem perder nossa identidade, mas expandindo nossa consciência. Enxergar o que é nosso a partir do outro.
5. Inconsciente Simbólico Coletivo
Na história da psiquiatria, saímos de Freud que desprezava a religião e o religioso para Jung que acolhia os mais diversos mitos como forma de o inconsciente, em toda a história da humanidade, se manifestar. Exemplos da influência de Jung no Brasil no trabalho de Nise da Silveira em seu Museu de Imagens do Inconsciente. Enxergar a arte e os símbolos ("O homem e seu símbolos" ) como formas da consciência medíocre se proteger do abismo que é o mundo, do terror da natureza titânica, da visão do sol, do sexo e da morte. Enxergar ainda a arte, as metáforas e os símbolos como formas de uma consciência ferida se cicatrizar a partir de dentro.
6. Caminhos para o acolhimento da Espiritualidade na Clínica
A. Pesquisas em torno de "Intinerários Terapêuticos", fazendo com que a prática médica seja vista como um ponto no imenso e incomensurável caminho de busca pela cura do paciente. Nossa ciência como apenas mais uma das portas possíveis de se bater.
B. Consciência dos Limites da Ciência (Edgar Morin) e do imperativo da interdisciplinaridade para não aleijar o homem e a mulher que atendemos das suas múltiplas dimensões, incluindo a espiritual.
C. Narrativas autobiográficas, Histórias de Vida, Biografização (construções de pensadores franceses com forte influência do romantismo alemão - Goethe, por exemplo) que buscam promover uma escuta qualificada dos indivíduos a partir da perspectiva dele, tomando sua história não em um recorte para fins de diagnóstico, mas como um todo. Por mais que esse todo seja apenas parcialmente apreensível, fica a grandeza do esforço do terapeuta de se abrir para a experiência mais rica contada em narrativas do Tu.
Referências bibliográficas:
- CABRAL, Ana Lucia Lobo Vianna et al . Itinerários terapêuticos: o estado da arte da produção científica no Brasil. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro , v. 16, n. 11, p. 4433-4442, Nov. 2011 . Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232011001200016&lng=en&nrm=iso>. access on 27 Oct. 2020. https://doi.org/10.1590/S1413-81232011001200016.
- COMTE-SPONVILLE, André. O espírito do ateísmo. Introdução a uma espiritualidade sem Deus. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
- DELORY-MOMBERGER, C. Biografia e educação: figuras do indivíduo-projeto. Natal: EDUFRN, 2014.
- FERRY, Luc. Aprender a viver. Rio de Janeiro: Objetiva, 2007
- HELMAN, Cecil G. Cultura, saúde e doença. Artmed Editora, 2009.
- HUGO, Victor. Disponível em : https://www.poetica.fr/poeme-49/victor-hugo-la-conscience/. Acessado em 26 de outubro de 2020
- KOYRÉ, Alexandre. Do Mundo Fechado ao Universo Infinito.[Tradução: Donaldson M. Garschagen] Rio de Janeiro: Forense-Universitária: São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 2006.
- PINEAU, Gaston. Les histoires de vie. Col. Que sais-je?. Ed. PUF. 5a ed. 2013
- MORIN, Edgar. Ciência com consciência. rev. mod. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2005.
- ___________. Os setes saberes necessários à educação do futuro. Cortez Editora, 2014.
- NIETZSCHE, Friedrich. Assim falou Zaratustra. EDIPRO, 2020.
- DA SILVEIRA, Nise. Imagens do Inconsciente com 271 Ilustrações. Editora Vozes Limitada, 2017.
- VOEGELIN, Eric. A nova ciência da política. Editora Universidade de Brasília, 1982.
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