Páginas

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Cartas astrológicas ao meu amigo astrônomo

Meu amigo astrônomo, 

Vou criar essa brecha em meu blog para falar com você sobre astrologia. Meu objetivo é lhe converter. Em uma época de respeito pelo insulamento de cada indivíduo, me atrevo a querer tirá-lo do seu.

Sei do seu percurso sublunar. Você é professor de astronomia de um colégio militar, vem fazendo uma revolução entre seus alunos. Conta-me, semanalmente, dos progressos, das conquistas na mente deles. E fico feliz, como se admirasse a evolução da sua órbita. 

Há tempos vem sendo o racionalista. Aceitando apenas o que não eclipsa a razão. E ri das minhas incursões astrológicas. Como se elas fossem um retrocesso da inteligência. 

Como venho seguindo seu rastro desde quando éramos imberbes, sei que o primeiro símbolo que tinha como qualquer coisa que se parecia com o sentimento religioso era um círculo cortado por um raio. O círculo que em muitas tradições é a representação da unidade de tudo, sem arestas; o raio, representando uma divindade suprema que faz esse círculo girar, incandescente. O politeísmo grego lhe chamava, contudo, mais atenção que o monoteísmo judaico-cristão.

Com o espiritismo, veio uma força de ressignificação daquele símbolo. O Deus cristão voltava a fazer sentido com uma racionalidade impressionante. Vida e morte pareciam asserenar-se numa majestosa teoria.  

Depois da faculdade de humanas, uma febre epistemológica caiu sobre você. Fez-lhe desistir da pretensão da unidade, enxergou a fragilidade da inteligência humana. Denunciou a soberba dos sistemas totalizantes.

À literatura, permitiu-se a magia. Como ficção, não havia pecado. São outros tantos símbolos que se pode trocar, sem perdas, pelas coisas concretas, visíveis, mensuráveis do cotidiano. 

Saindo desta nossa cidade provinciana, vai ao maior fulcro espírita do Brasil e encontra, entre pessoas que viviam o evangelho com o coração, uma família de ideais que muda, em parte, o curso de seus motivos nesta existência. O Deus cristão é redescoberto pelo coração. Você aceita trabalhar com metáforas que ligam as emoções humanas aos outros reinos, e os movimentos do espírito aos dos astros. 

O que aconteceu comigo, amigo, é que as metáforas em meu trabalho de médico não me servem tanto quanto as relações que geram vida em abundância. Eu estou quase no mesmo patamar em que você está. Só que, em vez de metáforas, estou aprendendo a ver uma relação íntima e quase "científica" (também tenho muitas reservas com esse nome) entre o movimento dos espíritos e dos outros reinos, incluindo os astrais. 

Por que eu quero lhe converter? Para que sigamos, como há muito estamos, juntos. Não vejo discrepância entre nossos movimentos. Ainda apontamos para o mesmo lugar: o círculo, unidade de tudo, movido pelo raio da única divindade doadora de sentido. 

Nesses últimos cinco séculos, jogou-se muita conquista humana fora. Venho descobrindo a ilegitimidade deste descarte. Em próximas cartas, passo-a-passo, explicarei porque.

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário