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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

O que venho aprendendo até agora neste semestre

Entramos em contato com os assuntos do ciclo de desenvolvimento humano. Para tanto, investigamos a epidemiologia que traça um panorama da saúde da mulher e da criança na primeira metade do semestre, e do idoso, na segunda metade. 

Após esse panorama construído e assimilado, partimos para a prática, que é a busca de sentir na pele o processo de saúde e adoecimento das pessoas nos seus contatos mais básicos com o serviço de saúde. Empreendemos, então, consultas de pré-natal e puericultura, a construção de genograma, escuta e sistematização de história de vida, aplicação de escalas geriátricas nos idosos de uma instituição de longa permanência.

Antes de começar a ida para a instituição de cuidados para idosos, senti vontade de compartilhar o que veio passando pela minha busca de aprendizado.

1) Descobri a fundação Maria Cecília Solto Vidigal, que esteve recentemente no Ceará colaborando para o Curso de Formação em Promoção do Desenvolvimento Infantil.  Eles defendem que não basta uma política de saúde que permita o diagnóstico e a intervenção precoce das doenças que mais matam as crianças se não houver concomitantemente a capacitação dos adultos para cuidar que as crianças se desenvolvam bem. Na verdade, é um movimento histórico da puericultura. Quando estávamos em um país subdesenvolvido, precisávamos, sim, aumentar nossa vigilância sobre estas doenças que matam muito e não deveriam matar. Mas, agora, toda uma leva de crianças significativamente maior do que algumas décadas atrás sobrevivem ao primeiro ano, e estávamos negligenciando que, até os seis anos, um conjunto de medidas relacionadas ao seu desenvolvimento psico-afetivo e social precisavam ser melhor trabalhadas. Como sempre, isso é uma atitude que requer uma abordagem multi-tudo, incluindo a grande sensibilização de todos os adultos para proporcionar um ambiente saudável para todas as nossas crianças. Eis o site da fundação: http://www.fmcsv.org.br

2) Andei tendo contato com mães de primeira viagem, e entendendo as dúvidas que rondam essa primimaternidade. Com isso, vou comparando suas dúvidas com as minhas quando à época do meu filho estar novo no mundo. Um enfermeiro muito querido, amigo meu, me ajudou a dar vazão a algumas demandas delas, já que, atualmente, não exerço atividade de ambulatório e seguimento de pacientes. São queixas que vão desde a amamentação até os problemas de pele, funcionamento intestinal, primeiros resfriados e sinais de alarme. E ainda tive a oportunidade de conhecer mesmo alguns complexos laços familiares.   

3) Tive o momento ímpar de dar aula sobre reflexões acerca de conversar com os pacientes para além das técnicas de anamnese. Uma abordagem que, sem prescindir o interrogatório em busca da verdade sobre a doença e as possibilidades de cura, aproxima-se da pessoa em busca de acolhê-la como sujeito que, segundo os preceitos da medicina de família e comunidade, deverá ser co-partícipe de uma relação de cuidado pelo resto da vida. 

4) Estamos acabando de sair de uma prática de construção de genogramas. Já havia estudado isso, e praticado sua construção à época de minha residência médica, mas fico cada vez mais surpreso o quanto ele pode nos ajudar a perceber que o paciente não é um ser sozinho, que seus males possuem história dentro de relações, que essas relações, por vezes, o deixam ainda mais vulneráveis, e que a nossa intervenção médica isolada, bastas vezes, será muito pobre se for apenas clínica. Fui atrás de relembrar como foi o ciclo de maldições, e relações patológicas, que circundou a tragédia de Édipo Rei, uma das histórias mais conhecidas da mitologia grega. Em breve irei expor o genograma dele por aqui. 

5) Por fim, mesmo sem termos ainda conhecido as histórias de vida de alguns habitantes da instituição de longa permanência que acolhe nossa atividade de aprendizado, venho aprendendo grandes lições com a disciplina de cuidados paliativos, tão nova em nossa grande medicina moderna, tão necessária para o fato do qual ninguém escapou: a nossa morte. Esse aprendizado vem pelo litoral em que minha esposa navega, com muitas ondas violentas que vivem querendo derrubá-la. Todavia, profissional dedicada que é, vem lutando bravamente para exercer o paliativismo nas terras áridas do Ceará, cuja gestão, seja do SUS ou da Saúde Suplementar, negligencia completamente o cuidado que se deve ter para com aqueles que vem findando este ciclo de vida.

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