Era um pouco menos que seis horas da manhã. A sombra de um homem lavava a roupa na casa em frente de minha varanda. É um pouco menos que seis horas da noite. A silhueta de uma senhora lava algo à mesma pia.
A casa é modesta. Vê-se os tijolos expostos, sem pintura que os maquie. Está imprensada entre duas maiores. Há um quintal onde plantam flores, leguminosas e o que valha de tempero. Uma adolescente surge para aumentar a história daquela casa.
Vou lhes dizer como deve ser o dia dessa gente. Porque ainda estamos de férias, a adolescente pode desperdiçar seu tédio junto ao celular com internet. Algo da sua vida é compartilhada entre os amigos. A maquiagem, de que os tijolos prescindem, ela põe no rosto para se apresentar na tela. Afazeres da casa são partilhados com a moça. A vassoura amontoa alguma poeira, leva ao ar outras tantas que são devolvidas ao chão no correr do dia.
Deu chuva. O velho olha o telhado para ver se não há brechas. Às vezes o tempo deixa escorregar telha sobre telha, e alguma fenestra, que em tempo de seca deixa passar luz e brisa, na chuva é preciso fechá-la. E a calha? Folhas podem tê-la entupido. E assim vai o homem revisando os lugares vulneráveis do seu habitat para que ao momento da chuva grossa ele a possa curtir em paz.
A mulher rala com as roupas. A chuva não atrapalha. O pouco de sol que brilhar no dia vem com tal intensidade no sertão que faz secar rápido qualquer molhado. Há chuva, mas há tempos que não persiste. Depois vem o almoço para preparar, as louças para lavar, o café para fazer, os ovos da galinha para coletar, ou os milhos para distribuir, e, enfim, o jantar, que é o almoço requentado. Este último deve ainda estar por fazer, já que agora que são seis horas cheias.
Quando tudo escurecer, homem e mulher poderão sentar à calçada, cumprimentar os compadres e as comadres. Talvez ela vá na casa de uma amiga conversar. Pode ser que o homem vá ao bar. A moça, há muito tempo que já se foi. De férias, o dia é longo, e os amores, muitos.
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quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
Chuva, cores, cheiros, sons, lembranças
A chuva cai no sertão. Não faz muito e a paisagem das estradas já está verde. O cheiro da mata e o odor dos animais enchem o carro. O gado ainda é seco. Lentamente consomem o pasto.
É plena quinta-feira e as vilas marcam passo. Vi três estabelecimentos dando-se o nome de mercantil, estavam fechados. Alguns maiores e mais centrais estão abertos, mas vazios.
Na maior cidade onde me hospedo, quase não há carros, apenas na rodovia. Acostumado a não precisar prestar tanta atenção de quem vem, de quem vai, sem olhar tanto para frente, e confiando na pista larga, um carro grande atropela a moto. A trombada quase não tinha cinética. Foi apenas o suficiente para levar a moto ao chão. A motoqueira sai andando e resmungando. Os implicados entendem-se rápido.
Estranho um engarrafamento muito isolado na mão de uma avenida principal. Desta vez era uma procissão que acompanhava o carro da funerária. Carros e pessoas em fila conduzindo o corpo para deixá-lo à porta da eternidade.
A velocidade dessa outra parte do mundo me desespera. As pessoas, para resolver os problemas, repetem a mesma frase algumas vezes. Aprendi a resolver as mesmas questões com uma palavra. Não creio que estou certo. Apenas me dou conta da minha inquietude da mente.
Ainda lembro o som que me acalentava o sono da infância na cidade do interior em que fui criado. Eram caminhões cortando a massa de ar da rodovia. Um som grave prenunciava a aproximação deles, mas gradativamente iam se emudecendo rumo ao horizonte oposto. Não precisava contar carneiros, pois aqueles sons me bastavam. Os mesmos sons se repetem à beira deste quarto.
Um menino pedala sua bicicleta às duas horas da tarde. Deve estar saindo para a casa da avó. Eu, no lugar dele, doze anos de idade, na bicicleta, estaria indo para lá. Quando ia para o interior, a liberdade me recebia para encher o pneu da bicicleta e desbravar o dia. A cidade era tão grande, então. Depois que experimentei os cem quilômetros por hora, mesmo andando a quarenta, aquela cidade da minha infância se comprime entre os dois polos da estrada. Tantos anos em tão pouco espaço. Apercebo-me que os espaços possuem zonas obscuras, mais profundas, que só se iluminam para quem os habita. Quem está de passagem apenas risca o lugar, e diz que nada há de relevante por ali. Quem vive a cidade, destrava experiências como quem desdobra uma vela de navio.
Eis que o vento quente e seco bate no rosto do adulto eu e desfolha todas essas lembranças.
É plena quinta-feira e as vilas marcam passo. Vi três estabelecimentos dando-se o nome de mercantil, estavam fechados. Alguns maiores e mais centrais estão abertos, mas vazios.
Na maior cidade onde me hospedo, quase não há carros, apenas na rodovia. Acostumado a não precisar prestar tanta atenção de quem vem, de quem vai, sem olhar tanto para frente, e confiando na pista larga, um carro grande atropela a moto. A trombada quase não tinha cinética. Foi apenas o suficiente para levar a moto ao chão. A motoqueira sai andando e resmungando. Os implicados entendem-se rápido.
Estranho um engarrafamento muito isolado na mão de uma avenida principal. Desta vez era uma procissão que acompanhava o carro da funerária. Carros e pessoas em fila conduzindo o corpo para deixá-lo à porta da eternidade.
A velocidade dessa outra parte do mundo me desespera. As pessoas, para resolver os problemas, repetem a mesma frase algumas vezes. Aprendi a resolver as mesmas questões com uma palavra. Não creio que estou certo. Apenas me dou conta da minha inquietude da mente.
Ainda lembro o som que me acalentava o sono da infância na cidade do interior em que fui criado. Eram caminhões cortando a massa de ar da rodovia. Um som grave prenunciava a aproximação deles, mas gradativamente iam se emudecendo rumo ao horizonte oposto. Não precisava contar carneiros, pois aqueles sons me bastavam. Os mesmos sons se repetem à beira deste quarto.
Um menino pedala sua bicicleta às duas horas da tarde. Deve estar saindo para a casa da avó. Eu, no lugar dele, doze anos de idade, na bicicleta, estaria indo para lá. Quando ia para o interior, a liberdade me recebia para encher o pneu da bicicleta e desbravar o dia. A cidade era tão grande, então. Depois que experimentei os cem quilômetros por hora, mesmo andando a quarenta, aquela cidade da minha infância se comprime entre os dois polos da estrada. Tantos anos em tão pouco espaço. Apercebo-me que os espaços possuem zonas obscuras, mais profundas, que só se iluminam para quem os habita. Quem está de passagem apenas risca o lugar, e diz que nada há de relevante por ali. Quem vive a cidade, destrava experiências como quem desdobra uma vela de navio.
Eis que o vento quente e seco bate no rosto do adulto eu e desfolha todas essas lembranças.
terça-feira, 16 de janeiro de 2018
Minha história de vida médica rumo à astrologia (parte III)
Falei-lhe sobre a homeopatia. Engraçado que desta medicina sem evidências robustas na literatura médica você não discorda, tendo peito aberto quase como eu tenho para acolhê-la como terapêutica para sua vida. Quero lhe mostrar como da homeopatia para a astrologia é um pulo.
Os estudos homeopáticos me foram de tal forma desestruturantes da forma de ver a medicina, que pela brecha que ele rompeu em meus muros epistemológicos, uma avalanche de vontade de conhecer outras medicinas se me apoderou.
Passei a estudar o que se conhece atualmente como racionalidades médicas, e vi que há dezenas no mundo inteiro. Localmente tão legítimas quanto a medicina oficial do ocidente, porém sem força - particularmente política e econômica - para se tornar universal como esta se tornou.
Outra medicina, porém, vem ganhando terreno pelos nossos países: a medicina tradicional chinesa. Esta vem logrando minar os preconceitos dos médicos ocidentais mais do que a homeopatia. Todavia, veja que lástima, nossa ciência moderna, cedendo aos resultados da acupuntura, não quer aceitar a doutrina que a fundamenta, haja vista, meridianos, yin-yang, chi. Vem suando sangue para mostrar que os tais meridianos não passam de projeções dos nervos na derme dos pacientes.
A doutrina chinesa do Imperador Amarelo não fala isso. Os meridianos são caminhos presentes em outro tipo de corpo que não o celular, estudado pela anatomia. O chi é uma energia imensurável, cujo estudo é apenas possível pelo próprio movimento dela, e não pela dissecção microscópica. Qualquer semelhança disso com a energia vital dos homeopatas não é coincidência.
O que me perturbou, de forma positiva, ao estudar acupuntura foi ver uma doutrina médica ainda mais concatenada que organizava TUDO, eu disso TUDO, em uma cosmologia universal, conectando homem e natureza. Os sintomas dos repertórios homeopáticos, muitos deles tidos como bizarros para a medicina alopática, se enquadram no sistema chinês com uma lógica assombrosa.
Há um princípio universal, por assim dizer verbo de Deus (uma forma cristã herética de traduzir), que é o yin-yang: o movimento perpétuo dos contrários. Destes surgem os cinco elementos - Madeira, Metal, Água, Terra e Fogo - cuja relação, de dominância ou geração, justifica a saúde e doença das pessoas e das populações. Cada órgão e víscera do corpo humano tem um correspondente mais ou menos análogo no sistema de meridianos, vasos pelos quais corre nosso chi. Nossas emoções encontram espaço confortável nessa estrutura, por exemplo, o fígado tendo a ver com a raiva, e o coração com a alegria. E até mesmo as estações do ano e as horas do dia encaixam-se nessa antropologia cósmica.
Agora chego na parte que queria. Certo dia, perguntando sobre a causa das doenças nas pessoas, o professor nos fala sobre a proveniência mater-paterna do chi escoando ao corpo em formação, porém deixa escapar a influência dos astros na estruturação deste mesmo corpo. Até com os astros os chineses decidiram trabalhar para explicar o processo saúde-doença! E nossa astrologia ocidental tem um afinidade enorme com a forma dos chineses de verem o complexo homem-mundo-cosmos.
Ao final do século XIX, um médico francês chamado Gérard Encausse toma conhecimento das sabedorias orientais, de escolas esotéricas. Era uma época de muita abertura, com efervescente troca entre os dois hemisférios. Porém, questiona-se se o ocidente não teria também sua tradição de sabedoria. Descobre que sim. Funda uma escola de estudos das sabedorias ocidentais, entre elas, as formas de astrologia que viemos estudando desde a Idade Média, até mesmo entre santos cristãos. Sua escola pretendia se contrapor ao materialismo do ensino médico de então.
Meu estranhamento primeiro é por que conhecimentos tão amplos foram jogados no lixo histórico depois de termos inventado a ciência moderna? Nesse ponto, o exercício da ciência é apenas reativo: não aceitar o que não apresentar uma evidência gritante aos olhos, à prova das experimentações, com metodologia rigorosa, reprodutibilidade global, e, tanto melhor, capacidade de previsão da repetição dos fenômenos quando submetida às mesmas condições geradoras.
O que venho vendo nas situações da homeopatia e da medicina chinesa, aceitando toda a tradição reflexiva desta, é a impossibilidade de nossa ciência moderna, conduzida do jeito que é, dar conta da complexidade das abordagens das chamadas medicina alternativas.
Alguns deslizes para a mentalidade do cientista moderno provoca a rejeição integral de toda uma paraciência. Por exemplo, o não-geocentrismo ou o rebaixamento de Plutão para asteróide fez com que se jogasse fora milênios de reflexão astrológica na busca de entender o homem a partir do cosmos. A inexistência de princípio ativo materialmente significativo faz rejeitar toda a experiência dos homeopatas que se esforçam em tratar o ser humano abordando todos os seus sintomas como um movimento único do corpo em busca de se reorganizar.
"O problema é o absolutismo da teoria!" Você pode me contrapor. Não, não é. É o estranhamento profundo com o núcleo identitário do nosso paradigma. Nossa ciência é um corpo rejeitando o invasor estranho.
Estava lendo um artigo sobre a acupuntura em uma enciclopédia francesa, e ela levantava vários êxitos dessa técnica no controle de dores, apontando teorias neurais que davam conta de alguma explicação. Porém, ela mesma confessava que sobre os êxitos da acupuntura em outros processos como transtornos de humor ou infecções, a teoria neural ainda era falha para explicar.
É uma ambição gnóstica, talvez, e um grave pecado aos olhos da igreja católica, eu sei, minha busca por uma medicina que abarque uma explicação que envolva das energias sutis ao sistema solar. Mais do que critérios laboratoriais ou experimentais, venho aprendendo a respeitar o esforço dos nossos ancestrais que dialogam, do infinito, comigo. Gerárd Encausse era grande amigo de León Denis, cujo livro Depois da Morte, revelando a unidade das grandes sabedorias do passado, converteu o professor Eurípedes Barsanulfo.
Pela nossa amizade, você pede que eu tome cuidado com essa vida de lutar contra moinhos de vento. E seu conselho me fez pensar por dias. Na verdade, ainda reverbera na alma. Mas, a energia que me conduz a essa busca é tão febril, que caso venha a terminar como D. Quixote, serei mais um fidalgo franzino esmagado por uma cultura que esvazia, sem piedade, o sentido da existência. Ao menos morrerei lutando.
Os estudos homeopáticos me foram de tal forma desestruturantes da forma de ver a medicina, que pela brecha que ele rompeu em meus muros epistemológicos, uma avalanche de vontade de conhecer outras medicinas se me apoderou.
Passei a estudar o que se conhece atualmente como racionalidades médicas, e vi que há dezenas no mundo inteiro. Localmente tão legítimas quanto a medicina oficial do ocidente, porém sem força - particularmente política e econômica - para se tornar universal como esta se tornou.
Outra medicina, porém, vem ganhando terreno pelos nossos países: a medicina tradicional chinesa. Esta vem logrando minar os preconceitos dos médicos ocidentais mais do que a homeopatia. Todavia, veja que lástima, nossa ciência moderna, cedendo aos resultados da acupuntura, não quer aceitar a doutrina que a fundamenta, haja vista, meridianos, yin-yang, chi. Vem suando sangue para mostrar que os tais meridianos não passam de projeções dos nervos na derme dos pacientes.
A doutrina chinesa do Imperador Amarelo não fala isso. Os meridianos são caminhos presentes em outro tipo de corpo que não o celular, estudado pela anatomia. O chi é uma energia imensurável, cujo estudo é apenas possível pelo próprio movimento dela, e não pela dissecção microscópica. Qualquer semelhança disso com a energia vital dos homeopatas não é coincidência.
O que me perturbou, de forma positiva, ao estudar acupuntura foi ver uma doutrina médica ainda mais concatenada que organizava TUDO, eu disso TUDO, em uma cosmologia universal, conectando homem e natureza. Os sintomas dos repertórios homeopáticos, muitos deles tidos como bizarros para a medicina alopática, se enquadram no sistema chinês com uma lógica assombrosa.
Há um princípio universal, por assim dizer verbo de Deus (uma forma cristã herética de traduzir), que é o yin-yang: o movimento perpétuo dos contrários. Destes surgem os cinco elementos - Madeira, Metal, Água, Terra e Fogo - cuja relação, de dominância ou geração, justifica a saúde e doença das pessoas e das populações. Cada órgão e víscera do corpo humano tem um correspondente mais ou menos análogo no sistema de meridianos, vasos pelos quais corre nosso chi. Nossas emoções encontram espaço confortável nessa estrutura, por exemplo, o fígado tendo a ver com a raiva, e o coração com a alegria. E até mesmo as estações do ano e as horas do dia encaixam-se nessa antropologia cósmica.
Agora chego na parte que queria. Certo dia, perguntando sobre a causa das doenças nas pessoas, o professor nos fala sobre a proveniência mater-paterna do chi escoando ao corpo em formação, porém deixa escapar a influência dos astros na estruturação deste mesmo corpo. Até com os astros os chineses decidiram trabalhar para explicar o processo saúde-doença! E nossa astrologia ocidental tem um afinidade enorme com a forma dos chineses de verem o complexo homem-mundo-cosmos.
Ao final do século XIX, um médico francês chamado Gérard Encausse toma conhecimento das sabedorias orientais, de escolas esotéricas. Era uma época de muita abertura, com efervescente troca entre os dois hemisférios. Porém, questiona-se se o ocidente não teria também sua tradição de sabedoria. Descobre que sim. Funda uma escola de estudos das sabedorias ocidentais, entre elas, as formas de astrologia que viemos estudando desde a Idade Média, até mesmo entre santos cristãos. Sua escola pretendia se contrapor ao materialismo do ensino médico de então.
Meu estranhamento primeiro é por que conhecimentos tão amplos foram jogados no lixo histórico depois de termos inventado a ciência moderna? Nesse ponto, o exercício da ciência é apenas reativo: não aceitar o que não apresentar uma evidência gritante aos olhos, à prova das experimentações, com metodologia rigorosa, reprodutibilidade global, e, tanto melhor, capacidade de previsão da repetição dos fenômenos quando submetida às mesmas condições geradoras.
O que venho vendo nas situações da homeopatia e da medicina chinesa, aceitando toda a tradição reflexiva desta, é a impossibilidade de nossa ciência moderna, conduzida do jeito que é, dar conta da complexidade das abordagens das chamadas medicina alternativas.
Alguns deslizes para a mentalidade do cientista moderno provoca a rejeição integral de toda uma paraciência. Por exemplo, o não-geocentrismo ou o rebaixamento de Plutão para asteróide fez com que se jogasse fora milênios de reflexão astrológica na busca de entender o homem a partir do cosmos. A inexistência de princípio ativo materialmente significativo faz rejeitar toda a experiência dos homeopatas que se esforçam em tratar o ser humano abordando todos os seus sintomas como um movimento único do corpo em busca de se reorganizar.
"O problema é o absolutismo da teoria!" Você pode me contrapor. Não, não é. É o estranhamento profundo com o núcleo identitário do nosso paradigma. Nossa ciência é um corpo rejeitando o invasor estranho.
Estava lendo um artigo sobre a acupuntura em uma enciclopédia francesa, e ela levantava vários êxitos dessa técnica no controle de dores, apontando teorias neurais que davam conta de alguma explicação. Porém, ela mesma confessava que sobre os êxitos da acupuntura em outros processos como transtornos de humor ou infecções, a teoria neural ainda era falha para explicar.
É uma ambição gnóstica, talvez, e um grave pecado aos olhos da igreja católica, eu sei, minha busca por uma medicina que abarque uma explicação que envolva das energias sutis ao sistema solar. Mais do que critérios laboratoriais ou experimentais, venho aprendendo a respeitar o esforço dos nossos ancestrais que dialogam, do infinito, comigo. Gerárd Encausse era grande amigo de León Denis, cujo livro Depois da Morte, revelando a unidade das grandes sabedorias do passado, converteu o professor Eurípedes Barsanulfo.
Pela nossa amizade, você pede que eu tome cuidado com essa vida de lutar contra moinhos de vento. E seu conselho me fez pensar por dias. Na verdade, ainda reverbera na alma. Mas, a energia que me conduz a essa busca é tão febril, que caso venha a terminar como D. Quixote, serei mais um fidalgo franzino esmagado por uma cultura que esvazia, sem piedade, o sentido da existência. Ao menos morrerei lutando.
Minha história de vida médica rumo a astrologia (parte II)
Havia lhe falado das minhas frustrações com uma medicina fragmentada, que impunha sobre nós o mesmo olhar contra o ser humano.
Contra a homeopatia eu tinha todas as reservas que os acadêmicos tem, mais por um sentimento de aderir a crença da horda do que de avaliar a eficácia e o sentido com meu próprio esforço.
Esse preconceito começou a ser dirimido por causa da cultura popular que encontrei ao redor da nossa querida cidade de Sacramento, onde certo professor muito querido da região, Eurípedes Barsanulfo, exercera ampla caridade curando muitas chagas com os remédios homeopáticos que artesanalmente fabricava ao seu Colégio Allan Kardec.
Voltei em busca de uma especialização no assunto. Encontrei-a. Iniciei o estudo da mesma, e qual não foi minha surpresa ao me deparar com uma medicina que possuía uma doutrina médica vasta, coerente, concatenada. Ela se fundamentava no que entendia fazer da pessoa um ser vivo e homeostático, e não na dimensão apenas mensurável do corpo, que na medida em que os microscópios ganham poder de penetrar, mais buracos encontram. Esse algo que caracterizava os seres vivos como organismos portadores de impulso vital, que reagia às agressões do ambiente com vontade de mais vida, a homeopatia deu o nome de energia vital.
Como é do meu feitio, fui em busca de me aprofundar no assunto, e, nova surpresa, o conceito de energia vital não era de agora, mas já vinha com a humanidade há milênios, tendo sido sepultado, aqui no ocidente, à época da medicina microbiológica, quando imputaram a causa de todas as funções que o organismo vivo apresenta a estruturas bem delimitadas que seriam as responsáveis por conduzir o bom andamento dessa ou daquela tarefa. O organismo vivo funcionava bem por causa de seus órgãos e organelas que funcionavam bem. Era como dizer que as rodas rodam por causa das rodelas, que o céu era azul por causa das partículas azuis que o compõem, que os sonhos são o que são por causa dos micropensamentos que o possibilitam. É reduzir o fenômeno ao microfenômeno.
De todo modo, ainda que o conceito de causa seja controverso na atual filosofia da ciência, as unidades a que tentavam reduzir o fenômeno não davam conta da complexidade do mesmo.
No caso do organismo vivo, a noção de energia vital me parecia mais capaz de elevar a teoria médica a altura do vasto universo das queixas das pessoas, bem como os remédios dinamizados, que imagina-se atuar estimulando o indivíduo na sua inteireza, tinha maior possibilidade de restabelecer a saúde. Como uma aspirina pode prevenir o infarto sem acarretar algum outro problema em outra parte do organismo? Não estamos falando de um complexo orgânico? Ora, pela teoria dos sistemas, nenhum elemento é perturbado sem que afete todo o resto. A farmacologia homeopática parte desse princípio e não desiste dele.
Os físicos e biofísicos, químicos e bioquímicos, farmacologistas, todos querem desmerecer a farmacologia homeopática pela inexistência laboratorial de matéria que dê razão ao remédio dinamizado. Todavia, para um médico que aprendeu a dar pouco valor para as ciências isoladas caso elas não venham a explicar o que vemos na prática diária, as falas dos cientistas de laboratório pouco me coçam. Para mim era mais importante os resultados que eram reproduzidos no mundo inteiro, para além do ocidente (!), por todos aqueles que se submetiam a esta outra medicina que já dura dois séculos. Além dos diálogo íntimo que essa medicina fazia com minhas principais convicções.
A indústria da medicina baseada em evidência, que vem estudando a eficácia pragmática do exercício homeopático, alega que não há evidências a favor da homeopatia, e que, portanto, substituir o tratamento convencional pelo homeopático seria criminoso. A luta está nesse patamar.
Para onde meu olhar se desviou, com bastante fundamentação filosófica a respeito? Existe uma carência gigantesca de metodologias de pesquisa que deem conta da riqueza do real. Qualquer um que estude a homeopatia seriamente vê que as pesquisas conduzidas para comprovar sua eficácia a mutilam já na construção do estudo antes de começar qualquer experimentação. Onde se averígua a eficácia dessa medicina dando força para sua resistência? No cotidiano dos consultórios homeopáticos. O que isso tem a ver com a astrologia? Vou lhe falar mais adiante, quando lhe explicar meu desvio pelo estudo da acupuntura.
Contra a homeopatia eu tinha todas as reservas que os acadêmicos tem, mais por um sentimento de aderir a crença da horda do que de avaliar a eficácia e o sentido com meu próprio esforço.
Esse preconceito começou a ser dirimido por causa da cultura popular que encontrei ao redor da nossa querida cidade de Sacramento, onde certo professor muito querido da região, Eurípedes Barsanulfo, exercera ampla caridade curando muitas chagas com os remédios homeopáticos que artesanalmente fabricava ao seu Colégio Allan Kardec.
Voltei em busca de uma especialização no assunto. Encontrei-a. Iniciei o estudo da mesma, e qual não foi minha surpresa ao me deparar com uma medicina que possuía uma doutrina médica vasta, coerente, concatenada. Ela se fundamentava no que entendia fazer da pessoa um ser vivo e homeostático, e não na dimensão apenas mensurável do corpo, que na medida em que os microscópios ganham poder de penetrar, mais buracos encontram. Esse algo que caracterizava os seres vivos como organismos portadores de impulso vital, que reagia às agressões do ambiente com vontade de mais vida, a homeopatia deu o nome de energia vital.
Como é do meu feitio, fui em busca de me aprofundar no assunto, e, nova surpresa, o conceito de energia vital não era de agora, mas já vinha com a humanidade há milênios, tendo sido sepultado, aqui no ocidente, à época da medicina microbiológica, quando imputaram a causa de todas as funções que o organismo vivo apresenta a estruturas bem delimitadas que seriam as responsáveis por conduzir o bom andamento dessa ou daquela tarefa. O organismo vivo funcionava bem por causa de seus órgãos e organelas que funcionavam bem. Era como dizer que as rodas rodam por causa das rodelas, que o céu era azul por causa das partículas azuis que o compõem, que os sonhos são o que são por causa dos micropensamentos que o possibilitam. É reduzir o fenômeno ao microfenômeno.
De todo modo, ainda que o conceito de causa seja controverso na atual filosofia da ciência, as unidades a que tentavam reduzir o fenômeno não davam conta da complexidade do mesmo.
No caso do organismo vivo, a noção de energia vital me parecia mais capaz de elevar a teoria médica a altura do vasto universo das queixas das pessoas, bem como os remédios dinamizados, que imagina-se atuar estimulando o indivíduo na sua inteireza, tinha maior possibilidade de restabelecer a saúde. Como uma aspirina pode prevenir o infarto sem acarretar algum outro problema em outra parte do organismo? Não estamos falando de um complexo orgânico? Ora, pela teoria dos sistemas, nenhum elemento é perturbado sem que afete todo o resto. A farmacologia homeopática parte desse princípio e não desiste dele.
Os físicos e biofísicos, químicos e bioquímicos, farmacologistas, todos querem desmerecer a farmacologia homeopática pela inexistência laboratorial de matéria que dê razão ao remédio dinamizado. Todavia, para um médico que aprendeu a dar pouco valor para as ciências isoladas caso elas não venham a explicar o que vemos na prática diária, as falas dos cientistas de laboratório pouco me coçam. Para mim era mais importante os resultados que eram reproduzidos no mundo inteiro, para além do ocidente (!), por todos aqueles que se submetiam a esta outra medicina que já dura dois séculos. Além dos diálogo íntimo que essa medicina fazia com minhas principais convicções.
A indústria da medicina baseada em evidência, que vem estudando a eficácia pragmática do exercício homeopático, alega que não há evidências a favor da homeopatia, e que, portanto, substituir o tratamento convencional pelo homeopático seria criminoso. A luta está nesse patamar.
Para onde meu olhar se desviou, com bastante fundamentação filosófica a respeito? Existe uma carência gigantesca de metodologias de pesquisa que deem conta da riqueza do real. Qualquer um que estude a homeopatia seriamente vê que as pesquisas conduzidas para comprovar sua eficácia a mutilam já na construção do estudo antes de começar qualquer experimentação. Onde se averígua a eficácia dessa medicina dando força para sua resistência? No cotidiano dos consultórios homeopáticos. O que isso tem a ver com a astrologia? Vou lhe falar mais adiante, quando lhe explicar meu desvio pelo estudo da acupuntura.
Minha história de vida médica rumo à astrologia (parte I)
Amigo,
Hoje vou lhe falar os motivos pessoais que vem me conduzindo para essa arte milenar.
Você sabe o quanto não me dei bem com a medicina que me foi ensinada na faculdade. Os estudos que formaram minha personalidade, particularmente na adolescência, me fizeram ter um gosto por uma espiritualidade ampla, que envolvia o conhecimento dos caminhos do ser humano enxergados a partir das mais diversas áreas do saber. De outro modo, tive acesso a uma forma de organizar estes conhecimentos bem sistemática. A doutrina que tanto eu quanto você abraçamos nos permitia responder às mais diversas perguntas com facilidade e lógica. Tudo parecia fazer sentido em um imenso sistema metafísico.
Quando entrei na faculdade, me deparei com um infinito de conhecimentos sobre o corpo humano extremamente fragmentário. Não existia uma doutrina médica propriamente dita, mas como que vários laboratórios disputando corrida de quem descobria mais curiosidades sobre o biológico. Desse conjunto de panos, cabia ao que eles denominavam de clínica costurar alguma coisa que parecesse bom como proposta terapêutica ao paciente singular que se apresentava à nossa frente.
Um ramo da epidemiologia (estudo dos fenômenos populacionais), chamada medicina baseada em evidência, tentava, não costurar, mas filtrar todo o conhecimento produzido por aquela corrida de laboratórios de pesquisa, a fim de, pelo menos, deixar montanha de panos menor, quem sabe assim facilitasse a vida do clínico.
O que deveria ser a racionalidade médica que nos ajudaria a colocar as coisas em ordem - a fisiologia, a patologia e a farmacologia - eram impérios de conhecimentos difícil de se comunicarem, além do que, de vez em quando desmerecidos pelas assim chamadas evidências. Qualquer brilhante conexão que fizéssemos usando estas três ciências poderia ser colocada por terra se a evidência não a chancelasse.
Terminávamos assim, a faculdade, como camelos, carregando em nosso lombo um sem fim de dados, toscamente organizados por alguns casos clínicos que ajudamos a conduzir durante a formação. Cada pessoa que vinha ao consultório em que estagiávamos contribuía para dar um sentido e alguma face para aquele monturo de informações médicas. Era como permitir a encarnação das matérias, das disciplinas.
Falava-se de médicos lendários que após decênios de prática possuíam a coisa com alguma forma apreciável na mente, como que uma pedra melhor esculpida do que nossa ainda incipiente arte abstrata. Geralmente eram professores que conhecíamos ao final da faculdade, conduzindo visitas por leitos hospitalares.
Depois que me formei, fui logo para os ambulatórios da atenção básica, matéria pobremente abordada na nossa formação. Ali me deparei com o que não nos era dito, ou que foi silenciado. A maior parte das feridas das pessoas não são contempladas pela medicina que nos é ensinada na faculdade. A colcha de retalhos que nos ensinaram a costurar era, na verdade, eivada de buracos pelos quais sinais, sintomas, queixas, lágrimas, gestos, semblantes, insinuações passam por inteiro sem nem serem tocados. Essa constelação de assuntos humanos, que a medicina oficial não tem olhos para enxergar, são tidos como "frescura", "piti", "exageros". Fui atrás de saber se o exagero dos pacientes na verdade não seria o reflexo de uma falta por parte da nossa prática. Aqui entra meu namoro com a homeopatia, que lhe contarei na próxima postagem.
Hoje vou lhe falar os motivos pessoais que vem me conduzindo para essa arte milenar.
Você sabe o quanto não me dei bem com a medicina que me foi ensinada na faculdade. Os estudos que formaram minha personalidade, particularmente na adolescência, me fizeram ter um gosto por uma espiritualidade ampla, que envolvia o conhecimento dos caminhos do ser humano enxergados a partir das mais diversas áreas do saber. De outro modo, tive acesso a uma forma de organizar estes conhecimentos bem sistemática. A doutrina que tanto eu quanto você abraçamos nos permitia responder às mais diversas perguntas com facilidade e lógica. Tudo parecia fazer sentido em um imenso sistema metafísico.
Quando entrei na faculdade, me deparei com um infinito de conhecimentos sobre o corpo humano extremamente fragmentário. Não existia uma doutrina médica propriamente dita, mas como que vários laboratórios disputando corrida de quem descobria mais curiosidades sobre o biológico. Desse conjunto de panos, cabia ao que eles denominavam de clínica costurar alguma coisa que parecesse bom como proposta terapêutica ao paciente singular que se apresentava à nossa frente.
Um ramo da epidemiologia (estudo dos fenômenos populacionais), chamada medicina baseada em evidência, tentava, não costurar, mas filtrar todo o conhecimento produzido por aquela corrida de laboratórios de pesquisa, a fim de, pelo menos, deixar montanha de panos menor, quem sabe assim facilitasse a vida do clínico.
O que deveria ser a racionalidade médica que nos ajudaria a colocar as coisas em ordem - a fisiologia, a patologia e a farmacologia - eram impérios de conhecimentos difícil de se comunicarem, além do que, de vez em quando desmerecidos pelas assim chamadas evidências. Qualquer brilhante conexão que fizéssemos usando estas três ciências poderia ser colocada por terra se a evidência não a chancelasse.
Terminávamos assim, a faculdade, como camelos, carregando em nosso lombo um sem fim de dados, toscamente organizados por alguns casos clínicos que ajudamos a conduzir durante a formação. Cada pessoa que vinha ao consultório em que estagiávamos contribuía para dar um sentido e alguma face para aquele monturo de informações médicas. Era como permitir a encarnação das matérias, das disciplinas.
Falava-se de médicos lendários que após decênios de prática possuíam a coisa com alguma forma apreciável na mente, como que uma pedra melhor esculpida do que nossa ainda incipiente arte abstrata. Geralmente eram professores que conhecíamos ao final da faculdade, conduzindo visitas por leitos hospitalares.
Depois que me formei, fui logo para os ambulatórios da atenção básica, matéria pobremente abordada na nossa formação. Ali me deparei com o que não nos era dito, ou que foi silenciado. A maior parte das feridas das pessoas não são contempladas pela medicina que nos é ensinada na faculdade. A colcha de retalhos que nos ensinaram a costurar era, na verdade, eivada de buracos pelos quais sinais, sintomas, queixas, lágrimas, gestos, semblantes, insinuações passam por inteiro sem nem serem tocados. Essa constelação de assuntos humanos, que a medicina oficial não tem olhos para enxergar, são tidos como "frescura", "piti", "exageros". Fui atrás de saber se o exagero dos pacientes na verdade não seria o reflexo de uma falta por parte da nossa prática. Aqui entra meu namoro com a homeopatia, que lhe contarei na próxima postagem.
sexta-feira, 12 de janeiro de 2018
Argumentos pró-astrologia
Amigo,
Talvez não queira saber de astrologia porque ela não é ciência. O que é ciência? Nem sei.
Vou supor que o que se esconde por trás dessa vontade de ciência seja a rigorosidade da investigação na busca de um conhecimento que não seja charlatanismo. Ora, são no mínimo cinco mil anos de conhecimento acumulado, se acumulando e se atualizando. Não, claro, em laboratório, mas em observação do espaço em diálogo com os acontecimentos da Terra.
"Ah! Mas não é mais a Terra o centro do universo." E com isso manda-se para o espaço estes conhecimentos cinco mil anos mais velhos do que você e eu juntos. Digo, os novos cientistas mandam, pois os ditos hoje ocultistas se apoderaram deles para encher seus consultórios a preço de ouro.
Acredito que o que mais fere os seus ouvidos é tentar provar que o que se move aqui embaixo é determinado pelos movimentos do alto. Sempre foi assim na história das religiões. A briga dos deuses provocava catástrofes no chão. Um dia inventamos uma sociedade que colocou a Liberdade como deusa principal, desde então a vida perdeu o sentido público. Conseguimos, mais ou menos, construir um sistema de governo que tolera qualquer cultura, e as grandes sabedorias se tornaram esoterismo ou curiosidade de revista.
Aprendi com a medicina algo que ela não queria que tivesse aprendido: a não esperar tanto dos conhecimentos científicos. A primeira coisa que ouvi à faculdade foi que eles se esvaem em cinco anos, substituição infinda, inovação destruidora. Quanto mais a tecnologia avança, mais curta é a validade deles.
Ao final de seis anos, a principal atividade que devia saber era iniciar, adicionar ou mudar anti-hipertensivos, anti-depressivos, anti-convulsivantes, anti-psicóticos, hipoglicemiantes, etc. As pessoas entravam e saiam do meu consultório sequiosas pelas receitas que fortificassem seus diques quase para estourar. Para que tomar aqueles remédios? Que sentido?
O sentido as pessoas buscavam em outro lugar, na igreja. Mas, o cristianismo oficial, cá entre nós, não fala de medicações materiais. A salvação da alma gira em torno de Jesus nas pregações. Minha profissão era um tanto marginal nesse contexto. Seria dar tempo para a pessoa se converter. Talvez mesmo fosse prejudicial, pois meus anti-qualquer-coisa seriam bezerros de ouro, tirando o foco do Deus do Sinai. A doença, que é o deserto das pessoas, teria mais função salvífica que minhas drogas.
Você, contudo, veio com uma mensagem de outro mundo, Minas Gerais. Como Moisés que desce do Sinai, falava-me de um modo de abordar o sofrimento das pessoas feito condutor de jornadas. O foco não era bem a conversão, mas a reflexão dos caminhos. Eis o motivo de quarenta anos em um deserto que bastaria duas semanas para atravessar. A pergunta insistente era: "o que Deus quer de nós?".
Você disse ainda que na natureza estava semeada a vontade de Deus, Seus sinais, Suas lições. Desde a semântica do lugar onde nascemos até as plantas típicas da região falariam do nosso corpo, da nossa família, nossa sociedade, estes templos reencarnatórios onde pisamos. Por que não a conformação dos astros? Apenas porque se movem? Porque a figura que imaginaram nossos ancestrais formar no céu era ficctícia, ilusão de perspectiva?
Vou lhe dizer a que se assemelha essa ficção: à medicina que pratico. Quase todos os anos especialistas se unem em um grande comitê e reformulam o que eram nobres verdades. São figuras no espaço médico que se reconfiguram com as novas evidências de quem passa o ano as observar. Dividiram o corpo humano em várias casas. Descobriram que doenças se manifestam quando tal ou qual constelação de astros deletérios se dispõem em torno do indivíduo. Em um ano dizem que são tantos os fatores influentes, no outro adicionam mais um, no outro consideram aquele distante como não sendo mais tão influente (deixa de ser planeta e vira cometa). E, no entanto, a medicina ainda é crível e consultada, política de Estado e indispensável para a nação, para a vida das pessoas.
A astrologia passa pela mesma instabilidade, visa ao mesmo fim da medicina e além. Além, porque nos dá uma visão sistêmica da vida inteira, de suas fases e dicas de nossos propósitos. Faz uma releitura de nossa existência tentando coaduná-la com os rastros siderais.
Os bons e atuais astrólogos não dizem que será assim ou daquele jeito, mas apontam que há tantos caminhos possíveis. Nestes cinco mil anos, certa forma de ver os astros, viu que tal ou qual conformação testemunhou tais e quais desfechos possíveis das ações humanas. "Que sentido isso traz para você?" Se antes era uma prescrição, como ainda o é na medicina, hoje se busca um diálogo, não em torno da Terra, mas em torno da pessoa.
Talvez não queira saber de astrologia porque ela não é ciência. O que é ciência? Nem sei.
Vou supor que o que se esconde por trás dessa vontade de ciência seja a rigorosidade da investigação na busca de um conhecimento que não seja charlatanismo. Ora, são no mínimo cinco mil anos de conhecimento acumulado, se acumulando e se atualizando. Não, claro, em laboratório, mas em observação do espaço em diálogo com os acontecimentos da Terra.
"Ah! Mas não é mais a Terra o centro do universo." E com isso manda-se para o espaço estes conhecimentos cinco mil anos mais velhos do que você e eu juntos. Digo, os novos cientistas mandam, pois os ditos hoje ocultistas se apoderaram deles para encher seus consultórios a preço de ouro.
Acredito que o que mais fere os seus ouvidos é tentar provar que o que se move aqui embaixo é determinado pelos movimentos do alto. Sempre foi assim na história das religiões. A briga dos deuses provocava catástrofes no chão. Um dia inventamos uma sociedade que colocou a Liberdade como deusa principal, desde então a vida perdeu o sentido público. Conseguimos, mais ou menos, construir um sistema de governo que tolera qualquer cultura, e as grandes sabedorias se tornaram esoterismo ou curiosidade de revista.
Aprendi com a medicina algo que ela não queria que tivesse aprendido: a não esperar tanto dos conhecimentos científicos. A primeira coisa que ouvi à faculdade foi que eles se esvaem em cinco anos, substituição infinda, inovação destruidora. Quanto mais a tecnologia avança, mais curta é a validade deles.
Ao final de seis anos, a principal atividade que devia saber era iniciar, adicionar ou mudar anti-hipertensivos, anti-depressivos, anti-convulsivantes, anti-psicóticos, hipoglicemiantes, etc. As pessoas entravam e saiam do meu consultório sequiosas pelas receitas que fortificassem seus diques quase para estourar. Para que tomar aqueles remédios? Que sentido?
O sentido as pessoas buscavam em outro lugar, na igreja. Mas, o cristianismo oficial, cá entre nós, não fala de medicações materiais. A salvação da alma gira em torno de Jesus nas pregações. Minha profissão era um tanto marginal nesse contexto. Seria dar tempo para a pessoa se converter. Talvez mesmo fosse prejudicial, pois meus anti-qualquer-coisa seriam bezerros de ouro, tirando o foco do Deus do Sinai. A doença, que é o deserto das pessoas, teria mais função salvífica que minhas drogas.
Você, contudo, veio com uma mensagem de outro mundo, Minas Gerais. Como Moisés que desce do Sinai, falava-me de um modo de abordar o sofrimento das pessoas feito condutor de jornadas. O foco não era bem a conversão, mas a reflexão dos caminhos. Eis o motivo de quarenta anos em um deserto que bastaria duas semanas para atravessar. A pergunta insistente era: "o que Deus quer de nós?".
Você disse ainda que na natureza estava semeada a vontade de Deus, Seus sinais, Suas lições. Desde a semântica do lugar onde nascemos até as plantas típicas da região falariam do nosso corpo, da nossa família, nossa sociedade, estes templos reencarnatórios onde pisamos. Por que não a conformação dos astros? Apenas porque se movem? Porque a figura que imaginaram nossos ancestrais formar no céu era ficctícia, ilusão de perspectiva?
Vou lhe dizer a que se assemelha essa ficção: à medicina que pratico. Quase todos os anos especialistas se unem em um grande comitê e reformulam o que eram nobres verdades. São figuras no espaço médico que se reconfiguram com as novas evidências de quem passa o ano as observar. Dividiram o corpo humano em várias casas. Descobriram que doenças se manifestam quando tal ou qual constelação de astros deletérios se dispõem em torno do indivíduo. Em um ano dizem que são tantos os fatores influentes, no outro adicionam mais um, no outro consideram aquele distante como não sendo mais tão influente (deixa de ser planeta e vira cometa). E, no entanto, a medicina ainda é crível e consultada, política de Estado e indispensável para a nação, para a vida das pessoas.
A astrologia passa pela mesma instabilidade, visa ao mesmo fim da medicina e além. Além, porque nos dá uma visão sistêmica da vida inteira, de suas fases e dicas de nossos propósitos. Faz uma releitura de nossa existência tentando coaduná-la com os rastros siderais.
Os bons e atuais astrólogos não dizem que será assim ou daquele jeito, mas apontam que há tantos caminhos possíveis. Nestes cinco mil anos, certa forma de ver os astros, viu que tal ou qual conformação testemunhou tais e quais desfechos possíveis das ações humanas. "Que sentido isso traz para você?" Se antes era uma prescrição, como ainda o é na medicina, hoje se busca um diálogo, não em torno da Terra, mas em torno da pessoa.